sábado, 14 de novembro de 2009

Mesquinhices


Dizem que a inveja é defeito de português mas eu não concordo; acho que é uma característica genética da raça humana - uma característica detestável mas muito humana. Penso que os bichos não são assim: avançam quando acham que merecem melhor e depois ou conseguem ou não; em qualquer dos casos arrumam o assunto e não o deixam a apodrecer a sua vida.

Reparem: nunca olhamos duas vezes para quem é melhor (dizem que faz mal, que cria complexos de inferioridade...);
Quando vemos alguém rico dizemos com um ar conspiratório que "de algures lhe vem..." porque mesmo não havendo nada que aponte para vigarices não podemos aceitar que sem elas alguém seja mais rico que nós;
Quando vemos uma pessoa realmente altruísta pomos a dita em Rilhafoles porque aquilo não é normal! ou então suspeitamos das suas intenções...
Um rol interminável de acções e pensamentos desprezíveis, todos nascidos da inveja.

Noutra vertente (ou quiçá a mesma?!?), quem tem o hábito de comparar o que se consegue com o que conseguem os melhores é tido por um "tipo destrutivo, que só gosta de deitar abaixo".
Quem não embandeira em arco porque alguém faz o que é suposto fazer uma pessoa normal é "um parvalhão que tem a mania que é melhor que os outros".
Quem não rotula uma pessoa decente de "excelente" é um porco que não sabe o que custa ser uma pessoa decente porque ele, manifestamente, não é.

Às vezes espanta-me como é que a humanidade consegue avançar.

Hélas!

8 comentários:

Alferes disse...

A humanidade não avança. Empurra-se, com a força dos poucos decentes que andam por aí.

Marques Correia disse...

Claro que a Humanidade avança - mesmo na nossa curta vida esse avanço é perceptível. Avanço ou melhor avanços, porque eles não são uniformes, e por vezes são recuos(digo eu...).

E a Humanidade avança porque a caracterização das atitudes que a D. Mac faz neste post não são mais que clichés que perdem a validade quando os generalizamos.

Felizmente!

. . . . . .
Será que só o meu grupo de amigos / relações tem mais de 50% de gente decente? Será?!

Que sorte a minha!!!!!

mac disse...

Alferes, se calhar é isso mesmo...

Marques Correia, sim, a humanidade avança, estamos de acordo. Daí o meu espanto.

Sabes, os clichés são generalizações de traços comuns e tornam-se inválidos quando personalizamos, não quando generalizamos - aliás, acho impossível generalizar clichés, é como tornar um mar mais mar, não faz sentido.

Voltando à coisa, duvido que o teu grupo tenha 50% de gente decente; são decentes porque não lhes é exigido nada, só isso. Assim, também o meu, também o de todos nós.
A coisa começa a fiar mais fino é quando há sacrifícios a fazer, para manter a decência.

Blimunda disse...

Acho que mais que inveja é mesquinhez. O Ser Humano é muito dado a essa grandiosa qualidade com a qual reveste tudo em quanto toca: a bendita mesquinhez.

Marques Correia disse...

Sra D. Mac, que raio de maneira de "ler" as pessoas: se ainda não foste posto à prova, se a vida ainda não te mediu, huuuuummm, serás tu decente, quando ela te medir?
Como procederá cada um de nós em situações limite?
Não sabemos, só quando/se essas situações se apresentarem. Podemo-nos revelar uns crápulas, podemos passar a prova com distinção...
Até lá, é como a inocência: presume-se até prova em contrário.

mac disse...

Blimunda, sim, para um gajo tão grande, o Homem é estupidamente pequeno.

Marques Correia, a vida põe-nos à prova todos os dias e aí começa a complicação: pois pode-se responder mal a uma coisita e estar à altura numa coisona; e vice-versa.

Para mim, conta mais a avaliação contínua: como é que as pessoas reajem à conversa de chacha do dia-a-dia. Sem nunca ser nada grave (é conversa de chacha) sabe-se bastante sobre a maneira como as coisas são encaradas...

jg disse...

A inveja cavará a nossa sepultura.
Ninguém nos chega aos calcanhares, nessa matéria.
Surpreenda-se, abra "Os Lusíadas", leia a última estrofe e preste atenção à última palavra.
E para mais, já lá vão 500 anos!!!

mac disse...

jg, temos de continuar a suplicar:

Sem à dita de Aquiles ter enveja.