segunda-feira, 30 de abril de 2012

Perdidos

Tentei imensos caminhos, achando de todas as vezes que me encontraria lá ao fundo, sorridente, a acenar e a dizer olá. Mas não estava, afinal. E não estava em nenhum dos caminhos por onde andei...

Não há dúvida que não sei onde me encontrar mas nem é essa a questão: a questão é que não tenho vida para me procurar mais. Já não há pachorra. Doem-me os pés.

Lá terei de viver perdida, caraças.

sábado, 28 de abril de 2012

O silêncio é de ouro

Eu queria dizer-lhe que há acções que nunca terão retorno, por muito dorido, esforçado, prolongado e sacrificado que o esforço seja. O mal não está nas acções, nem na falta delas, nem na necessidade que as dita; nem sequer é mal, é apenas a natureza das coisas.

Era isto que eu queria dizer-lhe... Queria dizer-lhe que ela é só uma, dois braços, duas pernas e uma cabeça e que, se há coisas que nem um batalhão inteiro consegue, é natural que uma pessoa sozinha também não as consiga!
Queria dizer-lhe para não se preocupar tanto, para não se por em causa a si própria ou à sua capacidade de intervenção, para não se justificar perante si mesma porque as coisas são como são e, por vezes, não está na nossa mão torná-las diferentes...

Achei na altura que ela estaria farta de silêncios compreensivos, que o que queria era alguém  interessado que avaliasse aquela situação em concreto e lhe confirmasse sem indiferença que não estava a fazer nada de errado.

Mas as palavras são escorregadias, o meu discurso titubeante foi percebido como uma crítica - e nunca se consegue "desprovocar" uma dor.

Pois, perdi uma óptima ocasião para estar calada.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Inocência


A alegria das crianças é dolorosa
Como as crianças riem, santo Deus!
Com que que inconsciência,
Com que inocência,
Sentem permanente o momento alegre!
E nós sabendo que amanhã vai chover,
Sabendo que amanhã o jardim estará fechado,
Nós sabendo que amanhã alguém vai morrer,
Ou pior ainda, vai viver desesperado.
Mas as crianças riem com a certeza
Que fará sol e será possível brincar
E que estarão no jardim, outra vez, amanhã!
E riem com a boca toda aberta,
E na sua alegria cabe o mundo todo
E cabem todos os tempos
E cabe toda a gente.
As gargalhadas cristalinas,
Os olhos redondos de alegria,
Os gestos soltos e abrangentes...
Doem-me fundo, fundo, magoam,
Como se aquilo que a vida me ensinou,
Fosse uma traição à sua existência.