terça-feira, 29 de junho de 2010

A bola e a vida


Sim, sim, já sei, Portugal perdeu e está fora do campeonato.

Não sei hei-de estar triste ou contente: obviamente que gostaria que Portugal ganhasse mas na verdade a bola é muito distractiva; o pessoal começa a pensar nela e esquece-se de problemas mais importantes e prementes.

É mau, um tipo esquecer-se dos seus problemas prementes; mas é bom, um intervalo na gravidade da vida.
É quase a mesma coisa que um tipo com sida partir uma perna - o problema continua a ser a sida mas no que ele e os dele pensam é no gesso e isso dá-lhes uma pausa potencialmente muito benéfica.

Eu cá sempre disse que a carola está mal desenhada, devia vir com um botão on/off. Mas ninguém me ouve, caramba!

Hélas!

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Encruzilhada


Quando chegamos a um cruzamento e queremos ir a vários sítios, que fazer?

Se vamos para a direita vamos onde queremos ir mas não vamos onde também queremos ir. Para a esquerda é o mesmo. Para trás não se pode, o caminho já nem existe.

Podemos sentarmo-nos no meio do cruzamento, à espera da construção da terceira via, aquela que nos leva a dois lados distintos. Algures lá para o século XXXI, com os nossos destinos mortos e por enterrar, nós próprios mortinhos da silva de tanto esperar, será aberta a via com destino a lado algum. Isto ainda dava em epidemia, tantos mortos ao ar livre.

Moeda ao ar? Não, a moeda ao ar é falta de discernimento e de coragem. Antes fazer asneira, que assim só falta o discernimento.

Para a direita, destino mais importante? O que nos fará, ter tomado essa decisão? Às tantas não aproveitamos o destino, enterrados na decisão que abdica do caminho da esquerda.

Para a esquerda? Mas não queremos ir para aí, só queremos ir durante um bocadinho, depois queremos o destino da direita - só que depois não há desvio, a direita perde-se quando se decide ir pela esquerda. Que chatice, isto não é nada justo.

E se formos em frente, apesar de não haver caminho? O mais provável é não chegarmos a nenhum dos locais onde queremos ir e ficamos tipo judeu errante, amaldiçoado por todos os destinos onde não chegámos, presentes onde não queríamos, perdidos em lado nenhum e muito, muito infelizes. A chorar por não termos seguido pela direita. Ou pela esquerda.

Uma alternativa é deitarmo-nos ao rio, é chato mas viável e definitivo. Os destinos lá ficam abandonados mas não temos de decidir nada; não tem qualquer uso para ninguém mas também não exige nada. Claro que é cobarde mas caramba, dos mortos ninguém diz mal e se mesmo assim disserem não estamos cá para ouvir. Aliás nem estamos cá para nos julgarmos a nós próprios. Muito confortável.

Ou será que se consegue ir para a direita com as rodas da direita e para a esquerda com as rodas da esquerda, tudo isto sem perder o Norte ou o juízo? Será possível que a encruzilhada não seja mais que um desafio malabarista?

Se calhar a encruzilhada é simplesmente falta de arte. Um verdadeiro artista nunca passaria sequer por uma encruzilhada, chegando a todos os destinos sem nunca precisar de decidir se vai por um lado ou pelo outro, uma vez que o seu artístico caminho alcança ambos os destinos.

Ou se calhar não.

Acho que finalmente compreendo os suicídas e os Napoleões de Rilhafoles: tiveram demasiadas encruzilhadas na vida.
Ou então tudo isto são tonterias de quem nem se mata nem mora em Rilhafoles mas, enfrentando encruzilhadas como toda a gente no mundo, tem uma compulsão relativa a origami com neurónios.

Mas então e se os caminhos não forem caminhos mas sim uma forma de...

Ora batatas, chega! Vou ver o dr House.

Hélas!

terça-feira, 22 de junho de 2010

FarmVille


Alguém andava a capinar os seus (?!?) campos, aqueles que não alimentam ninguém, não adiantam nada nem aproveitam a ser algum mas lhes ocupam os dias e eis senão quando ficou atónito... Um triste lama vagueava pela sua quinta.

Coitadinho, tinha fugido porque na sua terra os lamas andavam todos à pancada. Ele vagueava tristíssimo (provavelmente tinha pavor do macho dominante lá da manada mas não digam nada senão ainda fica mais triste) e fazia questão que se soubesse que andava à procura de nova casa (onde ele fosse O macho dominante, claro - um lama não pode fugir à sua natureza, não é?).

Haverá limites para solitárias paciências ou o homem reinventa sempre os seus tempos? Ou então sou eu que estou a ficar velha e razinza, longe dos tempos em que jogava alegremente o Manic Miner. Ou ambos.

Certo, certo, é que o Farmville me impressiona.

Hélas!

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Cansaço


Demasiado. Sabe-se lá porquê.

Suspeito que seja da vida (ficam sempre bem estes disparates, não é? Dá assim uma ar de profunda sofisticação, o cansaço é o mesmo mas agora tem um glamour apelativo...).

Hélas!

domingo, 20 de junho de 2010

Isto tem dias


Dia de sol. Alegra-me o sol, mesmo sabendo que a Lua está no mesmo sítio.

Sei lá porque me alegra o sol mas que alegra, alegra! Tá visto que só a vida não tem remédio.

Hélas!

sábado, 12 de junho de 2010

Rifas


- Fogo, pá, pensei que já tinhas resolvido a tua vida!
- Também eu, pá, também eu... Mas agora saiu-me isto na rifa.
- Rifa? Mas que rifa? Atão inda jogas nas rifas, pá, fogo, não sabes que isso é tudo uma aldrabice?
- Eu sei mas que queres? A rifa andava comigo inda nem eu sabia de rifas!
- Deita a rifa fora, pá, essa onda é pesada, os prémios são sempre maus, bonecas de plástico, pentes maricas, porta-chaves horrorosos, a gente nem tem uso para aquilo nem consegue deitar fora!
- Como é que deito a rifa fora? Vinha na algibeira sem eu saber, pá, sabes lá tu o que já fiz com aquilo! Mas eu não sabia que era uma rifa, juro.
- Mas as rifas tão aldrabadas, pá, pagas sempre mais que o que recebes!
- Eu sei, eu sei, mas que hei-de fazer se já tenho a rifa?
- Dá a rifa a alguém, pá!
- Já tentei e ninguém quer. É lixado, pá, não sei que fazer, podes ajudar?
- Eu? Fogo, detesto rifas, tenho azia, urticárias, sofro do coração, sinto-me mal... Além disso, pá, tu é que tens a rifa.
- Eu sei, eu sei... Eu é que tenho a rifa. Mas se tu quiseres, partilho contigo, pá.
- Tu tás mas é maluco, eu já resolvi a minha vida sem rifas.
- Eu sei, mas assim a dois era mais fácil, ficavas com a rifa uma semana de 2 em 2 meses...
- Tás doido, pá, a minha vida tão arrumadinha!
- Nem tinhas de te preocupar com o pente de plástico, pá, eu guardo o pente, só tens de levar a rifa de vez em quando...
- Tás maluco, pá, eu vou pró Gerez na semana que vem, mais a mulher e a filha, tenho lá espaço para rifas!
- Pronto, bem, deixa lá.
- Atão e agora?
- Sei lá, pá, tu também tens a mania que eu sei tudo!
- Pensei que sabias, pá, caraças, também estás sempre azedo!
- Desculpa, a minha vida complicada por causa da rifa.
- Fogo, eu só queria ajudar, quem me manda a mim, um gajo que tenta ajudar sempre feito ao bife.

Hélas!

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Saudade


Olho para as pedras e vejo pedras,
Olho para os paus e vejo paus,
Olho pela janela e vejo ruas.

Houve um tempo em que

Olhava para as pedras e via sonhos,
Olhava para os paus e via perfeições,
Olhava pela janela e via caminhos.

Fugiu-me a Beleza
Por entre as frestas dos dias.
Foi-se e não sei dela.

Que saudade de a ver concreta
Nos paralelipípedos do passeio!

Hélas!

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Os papagaios bêbedos


(...)

“Parece que estão ébrios. Caem das árvores porque é como se tivessem perdido a coordenação, saltam e não atinam com os ramos”, diz Lisa Hansen, cirurgiã do Hospital Veterinário de Palmerton, citada pelo ’20 Minutos’.

Os papagaios parecem estar doentes e têm de receber uma compota com fruta para normalizarem os movimentos. Há casos de aves em Palmerton que tiveram de ser internadas vários dias em unidades de cuidados intensivos.

[Correio da Manhã,2/Junho/2010]

Não sei o que é mais estranho entre a bebedeira dos pássaros, a cura por compota ou os cuidados intensivos... Que indecisão....

Pronto, é a cura por compota.

Confesso que estava a custar-me a ler o estranhómetro.


Hélas!

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Futuro


Aqui há muitos, muitos anos, quando eu era uma mocinha cheia de esperança no futuro, na vida e nas gentes, alguém me disse:

- O que tu não percebes é que a vida gasta as pessoas; às tantas fica só uma casca vazia.

Eu não acreditei, claro. Para mim a vida enriquecia as pessoas, por mor da experiência e das oportunidades que o tempo traz. Quanto mais tempo, mais experiência e oportunidades e portanto mais ricas ficavam as pessoas, é lógico, não é? Sempre tive esta estúpida mania da lógica.

Eu não fazia a mínima idéia que de facto, passados alguns anos e experiências são poucas as pessoas que não se começam a gastar por dentro. A perder a capacidade de absorção e transformação, de enriquecimento, de objectividade e perspectiva e de modo geral de tudo que requeira esforço ou sacrifício próprios.

Passados alguns anos deste processo, são cascas vazias de tudo que não seja elas próprias. E não se apercebem disso, julgam-se cheias de vida. Afinal mexem-se, comem, dormem e procuram o conforto, não é? Não se apercebem que isso até as baratas fazem e que para se ser uma pessoa tem de fazer mais do que isso.

Os putos a quem digo isto acreditam tanto em mim como eu acreditei naquela altura em quem mo disse.

Hélas!