Sentada no banco do jardim, chorava.
As lágrimas caiam em fio sem soluços. Nada as impedia, as mãos enclavinhadas no colo na posição centenária de estoicismo.
A postura era rígida mas discreta: nenhum dos passantes lhe dirigiu um segundo olhar.
A silhueta madura
não atraía os jovens e o drama passava despercebido aos outros, aos
solidários como aos abutres; talvez fosse essa a razão pela qual a
postura se lhe tinha tornado familiar, uma defesa contra intromissões
inconsequentes.
Os olhos abertos
perscrutavam sem ver a linha do horizonte, uma coisa feia de prédios
velhos e sujos. Não a via, os olhos só viam o que se tinha perdido, sem
esperança e sem remédio. Sentia-se velha e trôpega, no dia do seu meio centenário.
O seu tempo fora
julgado sem préstimo, toda uma maneira de proceder, um conhecimento e
uma experiência, toda uma maneira de estar, todas as escolhas da sua
vida, tudo ajuizado sem utilidade. Como caca de cão.
Quando não há capacidade para todos no bote, lança-se ao mar os que pesam mais do que o que valem na travessia. Tinha sido lançada ao mar e a pena por si própria era maior do que alguma vez pensara possível.
O
pombo aproximou-se, o olho vermelho a avaliar a possibilidade de haver
pão naquela figura pesada. Voltou a cabeça para ver com o outro
olho, igualmente vermelho de saúde; mas não havia dúvida que dali nada
viria, era demasiado agourenta, demasiado escura, a figura.
As lágrimas caiam em fio sem soluços. Nem viu o pombo que, também ele, a ajuizara sem valor.