domingo, 28 de fevereiro de 2010

Vida VI


Que se deve fazer, quando se está imerso num mar infindável de irrealidade, insensatez, mansa irracionalidade e inconsciência pacífica?

Hélas!

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Escolhas


Sei que quem passa os dias em reuniões importantíssimas não tem tempo para trabalhar, na verdade até o tempo que tem para mandar alguém trabalhar é demasiado pouco.

O que acho verdadeiramente terrível é que há pouquíssima gente que se aperceba disto, em geral pensa-se que se trabalha que se farta.

Isto é só coisas que me ralam.

Hélas!

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Paus e pedras


Disseram-me "põe lá isso no teu coiso" e eu, rapariga bem mandada, cá estou a por isto no meu coiso.

É assim: há quase uma semana que todos os telejornais dizem e mostram camiões, camionetas e traquitanas em geral a levar as pedras que sairam à conquista do mundo à boleia de ribeiras desgovernadas e movimentos migratórios das terras.

Dizem os repórteres com os olhos em alvo: "estes camiões levam as pedras, limpando a área..." e eu verbalizei a pergunta que imediatamente nasceu: "levam para onde?".

Desde então é uma desgraça. Todas as vezes que se fala na Madeira (e são muitas), lá está a pergunta a espreitar mas os repórteres, aparentemente, não se apercebem disto.

É que é muita pedra. Toneladas dela, em tamanhos variáveis que vão desde o calhau até ao menir. Muita, muito pesada e completamente deslocalizada. Que fazem com aquilo?!?

Podiam deitar no mar mas esse depósito tem de ser feito com alguma cautela para não hipotecar o futuro. A quantidade, volume e qualidade são incompatíveis com lixeiras. E não acredito em quem explica com um sorrisinho doce e olhos divertidos que são levadas para o lugar delas (leia-se: o cimo dos montes de onde vieram).

Portanto, pergunto: para onde diacho levam aquilo tudo?!?

Hélas!

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

A minha aldeia


Tenho pena dos desgraçados da Madeira. As imagens são terríveis e a TV, sempre ávida de emoções a metro, só não retrata mais malta a chorar porque não lhes consegue chegar.

Pessoalmente não tenho ninguém na Madeira mas tenho amigos do coração que têm - e imagino o susto e o medo. Eu gosto deles e portanto o seu medo e susto fazem-me infeliz por afinidade.

E o Haiti? Desapareceu. Antes da Madeira, ocupava pelo menos meia hora do Telejornal, qualquer deles - uma notícia importante, tantos mortos reais e muitos mais em potência, quanta gente pendurada na tragédia!
Depois da Madeira, não sobra nem 1 minuto para nos dizerem como aquelas almas lutam pela sobrevivência; hoje em Portugal o Haiti não existe.
Pois, a vida não é toda igualmente sagrada, um velho da minha aldeia é infinitamente mais importante que a aldeia vizinha inteirinha, mulheres, crianças, galinhas, cabras, ovelhas, cães e gatos. Ah! E homens e rapazes, claro.

Compreendo ao nível pessoal - se me morrer alguém atropelado, quero lá eu saber da Madeira ou do Haiti!

Ao nível impessoal, da importância das coisas no racional, desgosta-me o desaparecimento do Haiti e vejo nele a razão de todas as guerras e de toda a infelicidade infligida ao Homem pelo Homem: o umbigo.

Hélas!

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Persistência


A persistência é uma coisa difícil.

Admiro aqueles que alicerçado o seu rumo, o mantêm contra ventos, marés e opiniões vigentes. Acho que uma das maiores virtudes do Gandhi e do Martin Luther King foi a sua persistência; a capacidade de, custasse o que custasse, se manterem no seu caminho.

Persistência e teimosia têm os mesmos efeitos mas não são a mesma coisa.

A teimosia mantém o seu curso sem reavaliações. Não computa alterações da realidade e mantém a sua acção porque isso lhe custa menos.
Já a persistência reavalia sistematicamente o fim e o caminho e mantém a acção porque mantém a opinião, apesar de isso lhe custar.

É claro que com estes resultados iguais e sendo a diferença nas razões e no esforço altamente pessoais, praticamente só o próprio está em condições de avaliar se está a ser teimoso ou persistente.

Mas continuam a ser coisas diferentes.

Hélas!

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Telepatia


O defeito da raça: tentar compreender o "lado de lá" (Nota: o lado de lá é a humanidade inteira. Eu não percebo bem isto mas olhem, sou apenas um resto de couve).

Sem ser empata (de empatia, maldosos morons!) ou telepata, isso implica falar, um enorme gasto de tempo, esforço, paciência, vontade e persistência.

Quando alguém se recusa a falar, alegando montes de boas razões como falta de tempo, de pachorra, de tédio, de cansaço, de estabilidade emocional, de desistência, fica-se na dúvida maldosa: aceita-se (yuuuuupiiiiii, férias!) ou não se aceita (que chatice, isto vai ser esforço para uns muito largos anos de esforço, de persistência, de adiamento da vontade de ir fazer xixi em momenos críticos...), é complicado, não é?

Mas olhem, muito mais complicado que isto tudo é quando quem não se recusa a falar não fala realmente. Antes debita em voz alta e com os olhos em alvo o discurso que o ajudou a suportar as tempestades da vida. Tipo mantra - hooooooooommmmmmmm...

Compreende-se. Mas cria dificuldades acrescidas na compreensão da realidade comezinha.

Devemos respeitar a dor real ou tentar enquadrá-la no vasto mundo, cheio de tantas (e tão diversas!) dores?
Devemos desmontar o óbvio (para quem está de fora) esquema de auto-preservação ou respeitar (quiçá apoiar) as tentativas de sobrevivência emocional?
Devemos desistir, com a confortável certeza de que ele/a sabe melhor e portanto podemos por a viola no saco e descansar?

Não sei. E porque raio, não sabendo, não se pode escolher a via mais cómoda?

Sofro da doença da raça: saber que o "lado de lá" não é o "lado de cá". Ora batatas.

Hélas!

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Carnaval

== Acorro prestes às necessárias correcções ortográficas. Caramba, que estou a ficar mesmo iletrada! O que me vale são as carolas que me avisam que meti a pata na poça, obrigada! ==
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Hoje é dia de carnaval. É dia de nos mascararmos de quem não somos e rir da nossa própria figura... É dia de troça e, como sempre quando troçamos de nós mesmos, de saúde mental.
Risonha, como deve ser toda a saúde, senão nem vale a pena ser saudável!

Não para todos, claro - há empresas que não admitem um dia de rir à pala de não produzir nada. Paciência, há sempre malta mal-humorada.

Para mim (deram-me o dia!), que sempre detestei máscaras, é dia de não fazer nenhum. De me levantar da cama mais tarde. De andar pela casa a resmungar e a tossir, mudar coisas daqui para ali, tossir e resmungar, mudar coisas dali para aqui, resmungar e tossir outra vez, olhar pela janela e resmungar "que porcaria de dia", tossir mais uma vez para que conste, voltar a resmungar com a contingência da vida e antes que a tosse me impeça...

Será isto uma máscara também?


Hélas!

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

As sete magníficas

[porque a Bli não gosta de frango assado]

Sete saias de filó,
Sete amigas de lua,
Sete sombras no pó,
Sete rastos na rua.

Sete risos d'alegria,
Sete gestos de carinho,
Sete tons de melodia,
Sete rumos no caminho.

Sete mouras encantadas,
Sete tipos de ilusão,
Sete largas passadas,
Sete fontes de perdão.

Sete faias no pomar,
Sete maçãs na mó,
Sete barcas no mar
Sete vidas numa só.

Hélas!

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Ah! Pois é...


Estou novamente a permitir que a voracidade do tempo me devore a necessidade de tempo.

Rais parta isto, tantos anos e não aprendo. Alguém me cole um post-it na testa!

Hélas!

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Religião e moral


Nunca percebi muito bem a coisa, devo dizer. Nem no meu íntimo e a respeito de mim própria.

No outro dia, disse a alguém cristão que o que uma pessoa sinceramente crente devia desejar é que o seu bebé morresse serenamente no sono - a criança passaria directamente ao paraíso sem passar pela casa "Partida" e sem sofrer as agruras da vida (atenção que não estou a falar em matar o bebé, que seria um acto contrário a outros princípios cristãos).

É claro que os pais teriam um grande desgosto mas não é isto o amor cristão? Ignorar a nossa mágoa para que outro seja feliz? Na realidade, perorei eu, o que nos faz lutar assanhadamente pela vida de alguém é o nosso egoísmo, se fossemos realmente cristãos gostaríamos de ver a alma partir de encontro a Deus, com quem seria mais feliz que neste vale de lágrimas. Mas como somos egoístas, olhamos primeiro para o nosso umbigo e para o facto de gostarmos de o ter por cá ou não suportarmos a dor de não fazer nada, seja qual for o sofrimento que lhe estamos a comprar com isso.

Bem, quase me cuspiram num olho e de certezinha que passei à categoria de monstro se já lá não estava.

As minhas dúvidas mantêm-se: como é que um crente sincero, se for honesto consigo próprio, pode defender o seu próprio egoísmo? Isso não o devia fazer sair a correr para a igreja a pedir perdão? Ou a sua crença serve apenas e egoisticamente para o ajudar a superar os seus próprios maus momentos? E nesse caso, como raio pode sinceramente continuar a considerar-se honesto?

Eu acho que até percebia se me dissessem "olha, eu sou pecador, isto é o melhor que consigo mas todos os dias tento ultrapassar o meu egoísmo, todos os dias tento não me por a mim próprio em primeiro lugar, todos os dias peço a Deus forças para me esquecer e às minhas dores e conseguir por o bem do outro em primeiro lugar".

Mas não me dizem isto, cospem-me num olho e ficam zangados comigo.

Não percebo, a sério que não.

Hélas!

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

O segundo ímpar


Um dia pediram-me para explicar a relação entre o segundo ímpar e a coisinha das mulheres (sic. Foram estes os exactos termos da encomenda).

Sabendo perfeitamente que não é o meu género, agradeciam-me (a mim, que não tenho espírito de humor?!?) uma diatribe explicativa do porquê de dizer na mercearia "eu tenho aqui os três - escudos, euros ou pepinos" e todos desatarem a rir que nem uns alarves.

Dediquei algum tempo a estas questões (sim, são duas, vocês não estão com atenção?) e cheguei às seguintes conclusões brilhantes:

1º - O pedido foi para me provocar e embaraçar. Não sabem que já nada me embaraça e o que me provoca não tem nada a ver com isto, anda tão, mas tão, longe... Da intenção por trás da intenção, penso que era boa, do tipo vamos lá sacudir a couve que está cheia de lagartas e este assunto até é engraçado. Portanto, surtiu efeito embora por razões que nunca foram suspeitadas.

2 - A razão porque se riem desbragadamente as pessoas é um escape psicológico a uma tecla demasiadamente sensível. A evolução sexual da nossa sociedade é um embuste; os machos continuam inconscientemente agarrados à miragem da fêmea pura de outros genes que não os deles e as fêmeas continuam a considerar que quem tem vários machos é incompetente e não soube escolher o macho certo.

Estou impressionada comigo própria. Das duas, uma: ou vou tirar um curso de psicologia ou vou ter aulas com a Maya. Este talento não se devia desperdiçar, não acham?!

Hélas!